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Companhia Alvorada leva o ritmo do samba a obras do dramaturgo Anton Tchekhov em “Vidas Medíocres ou Almas Líricas”

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Em sua segunda montagem, Companhia Alvorada reúne obras do dramaturgo Anton Tchekhov em “Vidas Medíocres ou Almas Líricas”

Com estreia em 6 de abril na capital paulista, a peça mescla fragmentos de quatro textos do autor russo, alinhavados entre si com a genialidade poética do samba.

O que pode ser assim tão divertido? Acho que vocês deviam rir de si mesmos, de suas miseráveis vidas, ao invés de tanta conversa fiada.” – trecho de um dos contos de Anton Tchekhov “…não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar” – Paulinho da Viola

Com temporada no Teatro Pequeno Ato de 6 de abril a 26 de maio, a Companhia Alvorada, que brindou o público em 2018 com o espetáculo “É Samba na Veia, é Candeia” – sucesso de público e crítica – prepara-se para voltar aos palcos com uma nova montagem. Com a peça “Vidas Medíocres ou Almas Líricas” o grupo apresentará uma mescla de cenas de quatro textos principais do dramaturgo russo Anton Tcheckhov, além de trechos de cartas e contos do autor.

Foto: Gal Oppido

Para o diretor da companhia, Leonardo Karasek, a escolha por Tcheckhov se dá por reconhecer em sua obra questões universais e contemporâneas, que, embora escritas originalmente há cerca de 120 anos,  remetem a conflitos entre forma e conteúdo, passado e futuro, vida e morte e destino e tristeza. O autor russo, na opinião de Karasek, mantém uma fábula em seu enredo, no qual a unidade de tempo e espaço persiste e o diálogo oscila entre a relação dramática e a simples reflexão do mundo concreto e de um mundo de elucubrações.

“Na obra de Tchekhov, seus diálogos dizem pouco. A eloquência está nos solilóquios, chamados por Peter Szondi, em “Teoria do Drama Moderno”, de “lírica da solidão”, na qual existe uma liberdade nos silêncios, pausas e descontinuidade de tempo e espaço”, afirma o diretor.

Mas, e o samba? Segundo Karasek, o genuíno ritmo brasileiro está presente em sua segunda montagem de forma orgânica. Nada foi planejado. No decorrer da construção do texto, os sambas surgiam em sua mente. Letras e melodias que falavam do destino, da melancolia e da natureza da vida. “Afinal, seria a tristeza a essência primária da alma lírica humana?”, induz o diretor à reflexão.

Com esses questionamentos em mente deu-se início a carpintaria cênica e a criação da identidade visual da peça, que também teve inspiração em outro russo, o diretor de cinema Andrei Tarkovsky, vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Cannes em 1980, com o filme “Stalker”, de 1979.

“Neste novo espetáculo, o público irá se deparar com esses espectros, esses fragmentos, objetos abandonados, musgo, poeira, ferrugem, fotografias gastas pelo tempo… Signos que remetem à perenidade e à atemporalidade”, adianta o diretor.

Em relação às provocações que a peça levará ao palco, Karasek exemplifica. “Se o personagem Pétia, de ‘O Jardim das Cerejeiras’, realça que tudo que acontece neste mundo terreno ‘não passa de gesticulação’, de uma espécie de entretempo entre o nascimento e a morte onde criamos expectativas, frustrações, desejos, alegrias e rancores em relação à vida, por outro lado nós amamos, odiamos, casamos, trabalhamos, viajamos, fazemos arte, filosofamos. Nesse contexto, a pergunta central desta produção é: será que isso tudo vale a pena? Será que isso tudo tem algum sentido? Esses espectros passam a sentir necessidade de dialogar e não importa, esta é a nossa única vida e seguimos nela”, complementa.

Ainda de acordo com o diretor, a poética desta encenação reside na enfatização do eu lírico e o eu dramático. O homem social e o homem subjetivo. A partir disso, abrem-se caminhos para se refletir sobre a solidão, este sentimento que ronda a humanidade como uma sombra e é tema recorrente numa época de ilusões e idealismos desfeitos.

Por sua vez, a atriz e produtora executiva da peça, Rita Teles, afirma que o ponto fundamental de “Vidas Medíocres ou Almas Líricas” reside no equilíbrio da provocação do texto de Tchekhov com a genialidade lírica da poética de sambas de autores como Cartola, Paulinho da Viola, Manacéa da Portela e Nelson Cavaquinho. “Teremos até uma polca do Jacob do Bandolim”, diz.

Além de Rita Teles, o elenco conta com o músico Aloysio Letra e os atores César Figueiredo Cantão, Vanise Carneiro e Flávio Gerab.

SERVIÇO

“Vidas Medíocres ou Almas Líricas”

Temporada de 6 de abril a 26 de maio de 2019

Quando: sábados às 21h e, domingos, às 19h

Duração: 70 minutos

Classificação Etária: 12 anos

Onde: Espaço Pequeno Ato

Capacidade: 35 pessoas

Endereço: Rua Dr. Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque, São Paulo – SP, CEP 01220-040

Ingressos: R$ 40, inteira; R$ 20 meia entrada (idoso ,estudante, professor e classe artística)

Estacionamento: ao lado do teatro, 24h

Ficha técnica:

Direção: Leonardo Karasek

Assistente de Direção: Taís de Paula

Produção executiva: Rita Teles

Texto: Anton Tchekhov

Elenco: Aloysio Letra, César Figueiredo Cantão, Rita Teles, Vanise Carneiro, Flávio Gerab

Direção Musical e Preparação Vocal: Aloysio Letra

Produção: Núcleo Coletivo das Artes Produções

Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro

Preparadores de Elenco: Imara Reis e Pedro Lopes

Preparação Corporal e Coreografia: Sandro Mattos

Iluminação: Dedê Ferreira

Criação gráfica: Zeca Damaso

Direção e produção de vídeo: Contra-plongée (Cauê Teles e Marie Cabianca)

Plano de comunicação virtual: Eduardo Araújo

Fotos: Gal Oppido

Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo

SOBRE ANTON PAVLOVITCH TCHEKHOV

Nasceu em 29 de janeiro de 1860, em Taganrog, no sul da Rússia, sendo o terceiro de seis filhos. Foi médicodramaturgo e escritor e considerado um dos maiores contistas de todos os tempos. Como dramaturgo, é autor de quatro clássicos e seus contos têm sidos aclamados por escritores e críticos. Tchekhov renunciou ao teatro e deixou de escrever s após a péssima recepção de “A Gaivota”, em 1896. Entretanto, a obra foi reencenada e aclamada em 1898, quando foi montada pela companhia Teatro de Arte de Moscou, de Constantin Stanislavski, que também montou as peças “Tio Vania”, “As Três Irmãs” e “O Jardim das Cerejeiras”.

 SOBRE LEONARDO KARASEK (DIRETOR)

Formou-se em Direção Teatral no Curso Superior de Artes Célia Helena, dirigiu uma montagem pocket inspirada em “O Jardim das Cerejeiras”. É pós-graduado em Literatura Brasileira pela UFRGS, de Porto Alegre. Cursou Cinema na Universidade Federal Fluminense e participou de cursos de Roteiro em Cinema com Luiz Carlos Maciel, na Fundição Progresso, e com Jackson Saboya. Com a experiência adquirida, roteirizou e dirigiu os vídeos “Da Vida Nada se Leva”, “O Castigo” e “Pai”. Em 2017, dirigiriu sua primeira grande produção “É Samba na Veia, É Candeia”. Como ator, participou de diversos cursos em variadas instituições, como Teatro Tablado, Casa da Gávea e Casa de Artes de Laranjeiras (RJ), Teatro Ágora e Grupo TAPA (SP. Morou dois anos em Nova York (EUA), onde cursou o Lee StrasbergInstitute e o HB Studio. Nos palcos, acumula experiências em montagens como “O Despertar da Primavera” (Teatro Tablado- RJ), “As Aventuras de Tom Sawyer” (Teatro Ziembinsky – RJ), “Twelfth Night” – Kensington Library (Londres), “Our Town”(Cumberland Regional High School, de Nova Jersey/EUA). Na televisão, participou de um episódio de “Você Decide”, na Rede Globo.

SOBRE RITA TELES (ATRIZ E PRODUTORA EXECUTIVA)

Atriz, arte educadora, dubladora, produtora, é graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade São Judas Tadeu. Iniciou no teatro em 2002 e cursou, até 2008, o Curso Livre de Teatro ministrado pela Arte & Equilíbrio. Atuou em diversas peças, as duas últimas “Agosto na Cidade Murada” (2018) , “É Samba na Veia, É Candeia (2017/2018), espetáculos em que também assina a produção executiva. Idealizadora do projeto Oficinas de Vivência Teatral onde atua como arte educadora de teatro. Fundadora da Cia. Colhendo Contos e Diáspora Negra ao lado de Jefferson Brito. Com a peça narrativa “Contando África em Contos”, tem se apresentado em diversas instituições culturais de São Paulo. É, ainda, pesquisadora de dança negra contemporânea e simbologia dos orixás. Compõe o corpo de dança do Bloco Afro Afirmativo Ilú Inã e Ilú Obá de Min. Atualmente, vem se dedicando à produção executiva e artística de projetos e artistas brasileiros e africanos fomentando a visibilidade e difusão de arte e cultura de africana e afro diaspórica.

SOBRE A COMPANHIA ALVORADA

Companhia criada em 2017 pelo diretor Leonardo Karasek. Tem por objetivo pesquisar o sentido literário e filosófico dos textos e das palavras, trabalhar além das formas cênicas, priorizando o sentido das palavras e situações. Segundo seu fundador, “não temos medo de ser considerados passadistas por centrarmos nosso trabalho no texto e no sentido das imagens. Primamos pela valorização da história, do mito, a da reflexão sobre a condição humana. Preocupações que norteiam-se com questões do que com o diálogo obrigatório com as fronteiras do teatro ou renovação de suas formas. Pretendemos voltar a valorizar a fantasia e levar o espectador a um tempo e espaço, na maioria das vezes bem determinado”. A companhia tem como referência os grandes produtores de saber intelectual no teatro e na literatura, como Stanislavsky, Tchekhov, Ibsen, Shakespeare, Brecht, Moliére, Balzac, Proust, Dostoievsky e Machado de Assis. “Gostaríamos de retomar a produção de textos clássicos no Brasil, fazer uma verdadeira companhia de repertório. Nosso trabalho também inclui a pesquisa e a inserção, nos nossos espetáculos, de temas brasileiros que nos rodeiam, como o samba, o choro, o forró, o candomblé, o Carnaval e as festas populares”, diz. A primeira produção foi a peça “É Samba na Veia, É Candeia”, sucesso de crítica e público. Em sua segunda produção, a peça “Vidas Medíocres ou Almas Líricas” a companhia apresenta uma narrativa com textos e contos de Tcheckov e Sambas das décadas de 1930 e 1940. Para ele, atualizar questões universais pode significar, também, a aproximação com o redor e o passado. Nesse contexto, a globalização apenas é descartada quando mostra-se unilateral. Em suas propostas, a companhia defende pautas de direitos humanos, o fim dos preconceitos de qualquer espécie e o combate à desigualdade social no Brasil.

 

NÚCLEO COLETIVO DE ARTES

Tem como objeto fomentar e difundir arte, cultura e educação, sobretudo com foco em questões que envolvem matrizes africanas e manifestações da diáspora africana no Brasil.  Produções notórias: Seminário Internacional “Fronteiras em Movimento” – CCBB (2012), Seminário “A Morte & A Vida em Debate” – CCBB (2006), Intolerância Solidariedade no Mundo Contemporâneo – CCBB (2004). Sarau Afrikanse (2018), participou na produção de eventos com o Grupo de Articulação Política Preta (2016/2017), Mulheres Negras em Marcha (2017/2018). Quanto à projetos na educação: “Oficinas de Vivência Teatral” – Fundação Julita (desde 2014), Escola Nacional de Teatro (2015/2016), Secretaria Municipal da Cultura de SP (2017/2018). Assina as produções artísticas e executivas dos espetáculos: “Agosto na Cidade Murada” (2018), “É Samba na Veia, É Candeia” (2017/2018), “A Volta para Casa” (2015/2016), “Vênus de Aluguel” (2014), “Contando África em Contos” (desde 2016),  além da produção de diversos artistas, lançamento de livros e exposições de artes plásticas.